O Mais Preparado dos Brasileiros, o futuro pres. Zezinho, foi um dos mais entusiasmados participantes da nova forma de mobilização promovida pela UDN: o Panelaço Gourmet contra a ascensão social dos pobres.
Com o apoio do Presidente de Nascença, a UDN promoveu um maravilhoso caçarolaço pela entrega do pré-sal à Chevron.
A democrática manifestação encheu os ares de Higienópolis com o som do protesto da sua gente bonita contra o governo da usurpadora do planalto, que só se preocupa com a gente burra, desinformada, atrasada, vagabunda, sub-humana e sem classe do nordeste.
O ponto alto da manifestação foi a participação do ex-intelectual FHC. Pouco após o início do espetáculo ele saiu à janela acompanhado de seu secretário particular, que o representou na percussão do concert de cassarole contra o aumento do salário mínimo.
Empolgados por verem o homem que teve a honra de servir Bill Clinton, os eleitores infantis paulistas mostraram que são bons de ritmo e batucaram em suas panelas Alessi um coro consagrador para o ex-sábio: “Ô seu Obama, faça o favor! Põe o FHC como nosso ditador!”
O ex-luminar emocionou-se e foi às lágrimas, que caíam na bela gravata-babador com listras brancas e vermelhas e estrelas brancas sobre fundo azul, em uma cena de pungente patriotismo.
Na Vila Madalena, outra facção dos eleitores infantis paulistas também se empolgou e montou o bloco fora de época “Panelaço Le Creuset na Cabeça do PT”.
Entretanto, com medo de cruzar com a gente feia da Zona Leste que vai se divertir no moderno bairro paulistano, os udenofoliões preferiram tocar suas panelas nas varandas-gourmet de seus apartamentos, de onde clamavam por morte aos petistas e pelo fim do Bolsa-Família.
Dona Neca era uma das mais empolgadas, e disse que o evento cívico lembrou as alegrias dos panelaços de sua infância:
“Isto tudo me faz lembrar 1964, quando fizemos um panelaço em defesa da tradição, da família e da propriedade. Mas naquele tempo era melhor. Mamãe mandou as empregadas ficarem batendo as panelas enquanto acenávamos para os vizinhos na janela. Hoje, por causa da Dilma e do PT, eu mesmo tive que bater na panela, porque inventaram esse negócio de direitos e folgas para empregadas. Onde já se viu, não se consegue mais ter uma mucama disponível no domingo à noite! Acaba uma senhora da minha idade e condição tendo que bater na panela…”
No Rio de Janeiro, o bairro do Leblon viveu momentos de congraçamento. Em vários edifícios da Av. Delfim Moreira se avistava distintas senhoras batendo em suas elegantes panelas Fissler.
A grande ausência do panelaço do Leblon foi a de Tancredo Neves, que ainda não havia saído de debaixo da cama, mesmo depois de a irmã ter assegurado que já tinha livrado a barra dele.
Em compensação, D. Danuza era das mais animadas: “eu nunca havia segurado uma panela antes, mas contra o comunismo e contra encontrar o porteiro do prédio em New York, tudo vale a pena!”
Comentário da tia Carmela
Aqui na Mooca não ouvi nada. Mas sei que teve um panelaço lá no Cambuci. Minha prima Alzira ligou para avisar que as vizinhas dela, na Rua Barão de Jaguara, brigaram por causa do barulho do som do carro novo do filho de uma delas e a outra deu com uma caçarola na cabeça da vizinha. Bateu tão forte que tirou sangue e ela foi parar no Hospital Cruz Azul. Aí apareceu um jornalista da Veja e escreveu uma matéria dizendo que no Cambuci teve uma grande adesão ao panelaço…